PARTE 6 - FORMAÇÃO DA ENERGIA HUMANA



                        A RELAÇÃO SER HUMANO / ORIXÁ 



               O ser humano foi criado por obatalá por solicitação de olorum/olofim, para que povoasse a terra e fosse feliz.

 Para cada ser um orixá:

PRIMEIRO: orixá  do orí (da cabeça; a alma), aquele que será a personalidade;

SEGUNDO: orixá juntó o que serviria de criador ou preceptor ( incumbido de acompanhar e orientar os atos da crianção);

TERCEIRO: orixá adjuntó seria o destino ( o que a partir de certa idade estabelece sua realização em definitivo, mesmo com o livre arbítrio)  

e  Como já falamos, anteriormente, 

QUARTO: orixá dá ao ser um toque que o diferencia, poderíamos dizer um "plus".

                                    LENDA -  *1 “Ko sí Òòsà tí i dá´ni gbè léhìn Orí eni”
“Nenhum Orixá abençoa uma pessoa antes de seu Orí”

       Conta-se que que Olorum, após grande procura, perguntou a vários orixás, o que seria mais importante para eles depois de grande viagem:  O devoto ou o descanso? E todos responderam que em primeiro lugar descansariam. Apenas o orixá do orí(*2 onde se estabelece alma, inú, do ser), respondeu que primeiro atenderia ao devoto, pois a alma não se separa do corpo só com a morte. 

 Para alguns o orí é um orixá, mas  o orí, é o trono onde reside um orixá, que nos será "o tudo na vida". Dentro da religião africana, a cabeça do devoto deverá ser preparada para firmar esse orixá com equilíbrio e segurança. 

             Verifica-se o odú(caminho de energia), que  "carrega" o orí.  Qual função na natureza energética, para que  possam dela usufruir.
          Não haverá uma mudança no destino, confirma-se  a existência do destino e qual  orixá estar inserido nesse destino.  Ainda descobri-se qual o juntó(é aquele orixá preceptor - pai ou mãe/babá ou yá), que pode até modelar o destino com o odú deste.          Cada pessoa pode ir de encontro ou seguir um caminho alheio ao destino estabelecido(o livre arbítrio). Porém  as mesmas tendem a sofrer decepções na vida em geral, e é nesse caso, que o oráculo (jogo búzios) pode ajudar, com naturalidade e de conformidade com o destino, não deve  modifica-lo.
             Para aquelas pessoas que desejam o sacerdócio( ialorixá, babalorixá, etc.), há um longo preparo, de sete a quatorze anos, até experiências próprias mediúnicas, particulares e únicas, para estar "feito" no santo orixá.
         As experiências mediúnicas, ocorre como um chamamento.  Alguns tem visões, outros "bolam no santo" e existem os escolhidos pelo orixá e são predestinados.
                   "Bolar no Santo" é a declaração em público do Orixá que quer a iniciação de seu filho, nesse caso o babalorixá vai consultar o jogo de búzios para saber qual é o Orixá e se o devoto reuni condições para ser feito no santo orixá.   


A primeira fase da iniciação ou feitura de santo  é de 21 dias, onde a pessoa fica em retiro longe da vida profana e da família, devendo desligar-se de tudo e dedicar-se totalmente aos ritos de passagem, salientando-se que todo o ritual da iniciação não é público e que essa iniciação só pode ser feita por uma pessoa iniciada,  nas normas do candomblé só pode transmitir o Axé quem os recebeu de alguém iniciado na obrigação de odu ejé,obrigação de sete anos(um ano odú Kíní e três anos odú kétà.) 

          Quanto ao fato da pessoa ser recolhida para ser Iaô, Ogan ou Ekedi, essa questão só é resolvida durante a iniciação, se a pessoa entrar em transe será um Iaô elegun, se não entrar em transe e for homem, será um Ogan, se for mulher será uma Ekedi.
      Nos 3 primeiros dias a pessoa ficará descansando e fazendo os ebós de limpeza que serão determinados no jogo de búzios, e tomando banhos com folhas sagradas e abô( nomes usados pelo povo do santo para denominar a mistura de folhas sagradas e outros segredos do ritual), Sua utilização é larga e irrestrita, significando principalmente a ligação entre o Orum e Aiyê,  proporcionando o fortalecimento físico e espiritual, prevenindo e até mesmo curando certos tipos de doenças. Também em forma de amassi, que é um preparo de folhas míticas, usadas na sacralização de objetos como fio de contas, igba orixá e espaços sagrados.
      A preparação do abô é mais complexa, com ritos que pode durar até sete dias. A presença de um Babalorixá e de um Babalosaim é indispensável, pois neste ato litúrgico são exaltados os cânticos(orikís) e rezas (adurás).
  Além de respeitar horários para a colheita das 16 folhas sagradas, sendo oito tipos de folha chamada "fixas" (Ewe Oro) e 8 tipos de folhas variáveis (Ewe Orixás), de acordo com o Orixá que se esteja trabalhando, são utilizados também axés como: obi, orobô , azeite, mel e até mesmo (Ejé) sangue de animais sacrificados, entrarão nesta misteriosa mistura, ficará recolhida no roncó (quarto específico de recolhimento), próximo ao peji e será feita a primeira obrigação que é o bori, no final dos três dias é suspenso o bori e passa para as fases seguintes.  Em seguida começa a contar o período de 16 dias, aí tem início o longo aprendizado das rezas, costumes, práticas, lendas, histórias e a iniciação propriamente dita, que consiste em raspar a cabeça, fazer curas, que são pequenos cortes, assentamento do orixá, louças e otá, que é um  seixo(pedra rolada) onde fica propriamente dito o orixá, serão oferecidos animais, comida ritual, flores e frutas.    
      A "saída de iaô",  é uma festa  onde o orixá é apresentado e é dividida em partes: A primeira saída no terreiro ou ilê, é interna sem a presença do público, somente os membros da casa estarão presentes. Pode ter variação de uma casa para outra ou de nação para nação, uns fazem três saídas públicas outros fazem quatro.
Inicia-se o candomblé normalmente despachando o Padê e canta-se algumas cantigas,orikís, para cada um dos Orixás .
Na primeira saída pública o Iaô sai do roncó (quarto onde ficam recolhidos) para o salão do ilê todo vestido de branco, essa saída é em homenagem a Oxalá, trás na testa uma pena vermelha chamada Ekodidé e na parte superior da cabeça o adoxu e pintado com efun, ele vem acompanhado de sua mãe pequena, da Iyalorixá e todos que ajudaram na feitura. Nessa saída o Iaô deverá saudar a porta, os atabaques o Axé do centro do ilê onde estar o fundamento da casa e a Iyalorixá ou babalorixá. Em seguida é recolhido para mudar de roupa.
A segunda saída pública do Iaô no terreiro ou ilê, as roupas são coloridas em homenagem à todos os orixás e a pintura é feita com o pó azul wáji, branco efun, e vermelho osùn. O Iaô sendo de oxalá ou determinados orixás funfuns a roupa não pode ser colorida, predominando o branco, todavia a pintura colorida seja relevante em quantidade discreta.
   
         Orunkó -  Hora do nome do Iaô candomblé.


   O nome religioso (dijina) do filho-de-santo é frequentemente inspirado por termos que compõem as letras das cantigas, sendo possível identificar, através da dijina, o orixá da pessoa. 

   A terceira saída do Iaô é a mais esperada por todos da comunidade, nota-se um momento de tensão muito grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta sagrada iniciação, que pode ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem feito ou não, com o grito triunfal( Orunkó) do seu nome. O Orixá ará seu Orunkó para todos ouvirem, nesse caso é escolhida uma pessoa (normalmente um Babalorixá ou Iyalorixá de outra casa) presente para tomar o nome do Orixá, são feitas algumas cerimônias onde a pessoa pergunta por três vezes o nome do Orixá e na terceira ele grita em voz alta seu Orunkó, com a dijina para todos ouvirem. Depois do nome dado o Iaô é recolhido novamente para trocar a roupa.
A quarta e última saída o Orixá vem todo paramentado com roupas e ferramentas características de cada Orixá, para dançar e ser homenageado por todos os presentes. No final canta-se para Oxalá e a festa é encerrada.

          Banquete no ritual de candomblé.

Quando é encerrado o ritual propriamente dito, todas as filhas da casa ocupam seus postos e começam a distribuir a comida ritual do banquete farto. Sempre tem comida para todos e sempre sobra. Esse banquete é composto de cabritos assados ou cozidos, galinhas, patos, pombos, canjica, milho cozido, inhame, pipoca, acaçá e acarajé. Toda comida ritual servida ao Orixá é distribuída para os presentes. Muitos candomblés não permitem bebidas alcoólicas e nesse caso é servido o Aluá. Nas casas que permitem, é servido refrigerante e cerveja.                   


                        O  Àwon Ipò Òrìsà  OU DEKÁ



       OBRIGAÇÃO QUE SE  REALIZA APÓS SETE ANOS DE INICIADO E TENDO CUMPRIDO TODAS AS OBRIGAÇÕES: DE UM ANO, DE TRÊS ANOS, E A DE CINCO ANOS DE INICIADO, O FILHO OU FILHA DE SANTO, SE RECOLHE PARA O RECEBIMENTO DE SEUS DIREITOS SACERDOTAIS.
         É UMA OBRIGAÇÃO SEM A QUAL UMA PESSOA NÃO PODE SE DIZER SACERDOTE OU SACERDOTISA DE ORIXÁ, POIS NELA SÃO ENTREGUES A ELE, TODOS OS FUNDAMENTOS PERTINENTES PARA QUE POSSA EXERCER O SACERDÓCIO.
NESTE RITUAL COMPLEXO E EXAUSTIVO, TEM INÍCIO ATÉ MAIS DE UM ANO RETROATIVO, POIS É NECESSÁRIA A CONSTRUÇÃO DE UM ILE AXÉ COM APREPARAÇÃO DEVIDA DE ONILE, FUNDAÇÃO DE UM PEJI E VÁRIOS OUTROS ASSENTAMENTOS DE ORIXÁS, INICIAÇÃO RITUAL DOS ATABAQUESAGOGÔ, ADJÁ ETC.

NO DIA PROPRIAMENTE DITO DA ENTREGA DO OYÊ (OYÈ OU IPÒ É UM CARGO RITUALÍSTICO NA CULTURA JEJE-NAGÔ), UMA GRANDE CABAÇA DENOMINADA DE  IGBÁ, É RECHEADA COM VÁRIOS OBJETOS SAGRADOS, QUE O NOVO SACERDOTE VAI UTILIZAR DURANTE MUITO TEMPO DE SUA VIDA SACERDOTAL, ATÉ MESMO NA SUA ULTIMA OBRIGAÇÃO CHAMADA DE AXEXÊ, CONTENDO OBI, OROBÔ, ARIDAN, EKODIDÉ, NAVALHA, FACA, TESOURA, EFUN, LIMO DA COSTA E O IMPORTANTE FIO DE CONTA MAIS COBIÇADO DO POVO NAGÔ O HUMGEBÊ.

  ENTREGA DO MERIDILOGUN

                                  SOB O IGBÁ ENCONTRA-SE UM OPON MERINDILOGUN, "PENEIRA DE PALHA" ORNADA COM BÚZIO E PALHA DA COSTA, ONDE ESTÁ DEPOSITADO O MAIS PRECIOSO E PODEROSO INSTRUMENTO DE CONSULTA AOS DEUSES AFRICANOS, CHAMADO DE MERINDILOGUN.   A ENTREGA DO OYÊ  GERALMENTE É FEITA NO BARRACÃO NA PRESENÇA DE TODOS OS PRESENTES, LOGO EM SEGUIDA O ORIXÁ DO NOVO SACERDOTE RESPONDE, CONFIRMANDO À ACEITAÇÃO, TODAVIA O MESMO É SUBMETIDO A TESTE DE APRENDIZADO TENDO QUE JOGAR OS BÚZIOS NA PRESENÇA DOS SACERDOTES MAIS VELHOS, INCLUSIVE DE OUTROS TERREIROS.










                                                                                              



REFERÊNCIAS E BIBLIOGRÁFIAS.

*1 Esclarecimentos futuro.


*2 VERSO SAGRADO EM YORUBÁ


 Carlos Eugênio Marcondes de Moura - 1998 - 164 páginas 



ORUN AIYE. O ENCONTRO DE DOIS MUNDOS - JOSÉ BENISTE - EDITORIAL, BERTRAND BRASIL PÁGINA 238.

WIKIPÉDIA ENCICLOPÉDIA LIVRE - ODÚ.

WIKIPÉDIA ENCICLOPÉDIA LIVRE  - FEITURA DE SANTO NO CANDOMBLÉ.






Comentários

Unknown disse…
Excelentes colocações, que trazem a beleza da nossa Religião. Grato por esses conhecimentos.
Roselia Dantas disse…
Hoje em dia muito desse passo a passo do "feitura de cabeça", fica comprometido, pois os terreiros já não tem as mesmas condições naturais de antes.

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